sábado, 27 de novembro de 2010

Estática

   A televisão estava com problema. Há horas não recebia nenhuma transmissão, apenas estática. Ela não parou de olhar para o aparelho, mesmo assim. Passou a observar aqueles pontinhos brancos e pretos, que não lhe diziam nada, apenas se mexiam de maneira caótica, sem um significado. Ela não parou para pensar nisso, olhava mesmo assim... Estava tão acostumada a ficar naquela posição, sem fazer nada, sem pensar em nada, que já não se lembrava de como fazer outra coisa. Ela já havia se acostumado à estática...

domingo, 21 de novembro de 2010

Puxando a cadeira

  Ele puxou a cadeira para que ela se sentasse. Um cavalheiro, pensou. Há quanto tempo não puxavam a cadeira para ela? Parecia um gesto esquecido, uma gentileza ultrapassada, que ficou no tempo. Quando foi que pararam de puxar as cadeiras para as damas se sentarem? Por que esse hábito caiu em desuso? Ou seria a própria gentileza que estava fora de moda? Ela se sentou. Um cavalheiro, pensou novamente. Eles ainda existem...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Caminhar

   Andava olhando para as estrelas... perdia o chão. Batia em algo, escorregava, caía. Passou a andar olhando o chão. Tinha certeza de onde pisava, segurança quanto à caminhada. Porém... ao fazer isso, perdeu as estrelas. Agora anda olhando para frente, contemplando o horizonte. Quando o piso é mais irregular, olha para o chão e garante sua sustentação. E antes de sair para caminhar, olha as estrelas e traça seu rumo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Cardápio

   Novamente naquele restaurante. Cardápio em mãos, olhava as opções. Gostava do lugar, mas sempre pedia o mesmo prato. Decidiu olhar o que mais havia... A maioria dos pratos continha algo de que não gostava. E dentre aqueles que gostava, nenhum se comparava, sequer chegava perto, do que sempre pedia. Era sempre assim... quando ia àquele restaurante, olhava todas as opções do cardápio só para se lembrar por que pedia o mesmo prato todas as vezes.