domingo, 27 de março de 2011

Carregando uma caixa

   Lá ia ele carregando a pesada caixa. Tinha nela uma série de bugigangas, coisas compradas ao longo de vários anos. Pesada, usava as duas mãos, com esforço. No caminho, viu uma outra caixa. Como estava sem tampa, pode vislumbrar o que havia dentro. Avaliou rapidamente e percebeu que era uma caixa melhor que a sua. Tinha diversas coisas interessantes e úteis. Porém, não tinha tudo o que já tinha. Pensou se conseguiria carregar as duas caixas... impossível! Aquela caixa era ainda maior, certamente mais pesada do que a sua. Pensou em levar só a caixa nova, depois voltaria e veria se a caixa velha ainda estava ali. Mas não o fez. Incapaz de soltar o que já tinha em mãos, seguiu com sua própria caixa. Quando voltou, a outra já não estava mais lá.

sábado, 19 de março de 2011

O som da própria voz

   Ela adorava o som da própria voz. Falava, falava e falava... Quando alguém tentava opinar, contra-argumentar ou mudar de assunto, não deixava. A voz dos outros não era, nem de longe, tão bonita quanto a sua, tão digna de ser ouvida. Com o tempo, foi tendo ainda mais certeza da sua opinião, a ponto de desenvolver uma espécie peculiar de surdez: não ouvia a voz dos outros, só a própria.

sábado, 12 de março de 2011

Falta de percepção

   Eu estou falando isso para ele. Contando a história de outra pessoa, mas a história é para ele ouvir e refletir sobre si mesmo, embora se perguntasse, eu negaria veementemente. Estava apenas contando uma história...
   Mas quero que reflita a respeito. Fico me perguntando: será que ele não percebe que é para refletir a respeito? De si mesmo, de sua vida, de suas atitudes? Não... ele sabe que é para ele que estou falando. Só que eu sou cabeça-dura demais para que ele ponha o assunto em debate. E isso é algo que eu nunca vou perceber... Muito menos que ele percebe que a mensagem é direcionada a ele, que finge não perceber para evitar o conflito.

domingo, 6 de março de 2011

Bolinha nas costas

   Rafael jogou uma bolinha de papel nas costas de Paulo Henrique. Ele virou, com cara de “o que é?”. Rafael, em cochichos, perguntou: “Qual é a próxima aula?” Paulo Henrique: “geografia”. Rafael, novamente: “E depois?” Paulo Henrique respondeu “matemática” e virou-se para frente. Deu-se conta, então, de que já estavam no quarto bimestre. As aulas seguiam a mesma ordem desde o início do ano. Virou-se para Rafael e perguntou: “Você ainda não gravou qual é a sequencia das aulas? Até agora?!?” Rafael deu de ombros.
   Paulo Henrique ficou pensando em como ele, já na van a caminho da escola, relembrava todas as manhãs quais seriam as matérias do dia, já esperando (com certo pesar) o que vinha pela frente. Seu pensamento foi interrompido por mais uma bolinha nas costas, de Rafael: “É hoje que a gente tem aula de educação física?”