segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Chame um especialista

   “A lâmpada da dispensa parou de acender”, gritou-lhe de longe a esposa. Sem tirar os olhos da televisão, após alguns segundos ele grita que chame um eletricista. Antes o marido pelo menos ia até o local, via se podia resolver por si mesmo, se era apenas uma lâmpada queimada... ela reclama. Deu o intervalo e ele pelo menos se deu ao trabalho de inventar uma desculpa: não era um especialista. Ela teria que chamar uma pessoa que entendesse do assunto para resolver, ele era só um contador.
   Na semana seguinte, chegou em casa e precisou logo ir a dispensa. Observou que a luz estava funcionando. Chegando à sala, perguntou se a mulher chamou um eletricista para consertar o problema. Ela disse, lá do quarto, que sim. Então ele adentrou e se deparou com um desconhecido sujeito, másculo, que se vestia apressadamente: o que é isso? Ela respondeu com toda calma que, já que o marido não estava fazendo sua parte, ela contratou um especialista.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Causa mortis

  Sua vida era ter ideias. Um poço de criatividade ambulante, sempre olhando as coisas e pensando em como poderiam ser diferentes, ou fazendo novas combinações, ou apenas criando de acordo com um novo estilo. Também parava, pensava sobre um assunto e assim, sem nenhum estímulo externo, naquele instante de introspecção, surgia mais uma ideia. Procurava colocar em prática aquelas que podia. As que não podia, anotava. Quem sabe um dia poderia? Só não podia deixar a ideia simplesmente surgir e sumir.
   Essa era a sua função em vida, a razão de sua existência. Tinha tanta certeza disso que costumava brincar que sua vida acabaria quando já não tivesse novas ideias. “Soube do Guilherme? – Não. O que houve? – Ele morreu. – Sério? Que triste! De quê? – Morreu de falta de ideias”.

Aonde ir?

  O motorista para o carro e pede uma informação na rua. Está perdido, precisa de uma orientação. Diz ao transeunte: “Preciso achar o caminho...” O transeunte, solícito, pergunta: “Aonde você vai?”. O motorista responde: “Não sei...”. O transeunte tenta novamente: “Não sabe o nome? Como é o lugar aonde você quer chegar?” O motorista responde: “Não sei aonde quero chegar. Estou simplesmente andando...”. O transeunte insiste: “Me diga onde você quer estar, então” O motorista se cala em dúvida, essa é sua resposta. O transeunte diz: “Não tenho como lhe aconselhar que caminho tomar se você não sabe aonde quer chegar. Sinto muito!” O motorista lamenta: “Estou perdido!”