domingo, 12 de dezembro de 2010

Santificados sejam os nossos mortos

   Beltrão morreu.
   Quando vivo, era mal falado. Um mulherengo, todos diziam. Ou pior, um pretenso mulherengo. Manjado, já não caíam no seu papo. Tentava com todas, ninguém lhe dava bola. E era um encostado. Não trabalhava, nem queria. Vivia de favor, muito contente com isso. Arranjava um ou outro bico, só para comprar birita.
   Mas Beltrão morreu. E por ter morrido, virou santo. As mesmas bocas que o mal falavam agora são – como se autoproclamam – menos intolerantes. Beltrão era muito comunicativo, carinhoso com as pessoas, tentava se aproximar de todo mundo. Dada sua simpatia, algumas mulheres não compreendiam bem suas intenções. E era um desfavorecido. Por mais que tentasse, por motivo de perseguição, nunca se mantinha em um emprego. Pobre coitado! Só lhe restou a bebida para afogar sua frustração.

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