domingo, 24 de abril de 2011

Correnteza

   A água corria, e escorria por entre seus dedos. Parado no meio do rio, a correnteza passava por seu corpo em um dia ensolarado. O jovem mantinha as mãos abertas, submersas. Sentia a água fluindo irrepreensivelmente por seu corpo. Ele não poderia detê-la. Ainda assim, fechava suas mãos e as erguia. Nem mesmo aquela pequena quantidade do líquido se mantinha. Quando olhou, já ao entardecer, percebeu o quanto suas mãos estavam enrugadas. Submergiu-as novamente, as palmas voltadas para a irremediável correnteza. Sua vontade era mudar sua direção, ter de volta aquilo que passou. Porém, nem mesmo conseguia conter entre seus dedos uma quantidade significante da água. Como pretenderia mudar seu sentido? Já era noite quando ele finalmente se convenceu – embora antes já soubesse – de que não adiantaria tentar parar a correnteza. Olhou suas mãos, as águas escorrendo dos dedos mais uma vez. Por trás dela podia ver, no reflexo da água sob a luz da lua, seu rosto também enrugado.

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